Formada em economia pela Universidade de Oxford, com experi\u00eancia trabalhando em miss\u00f5es de campo pela Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas, uma d\u00e9cada de trabalho na Oxfam<\/a> e dezenas de viagens pelos cantos mais rec\u00f4nditos e subdesenvolvidos do planeta, Raworth lan\u00e7ou uma teoria econ\u00f4mica que, em 2011, desafiou os mantras ortodoxos da \u00e1rea e, em 2017, virou o livro \u201cEconomia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo\u201d<\/a>.<\/p>\n\n\n\n Na obra, a autora ressalta as limita\u00e7\u00f5es das doutrinas econ\u00f4micas cl\u00e1ssicas e defende a ado\u00e7\u00e3o de uma nova abordagem, pr\u00f3pria do s\u00e9culo 21, que perceba as interconex\u00f5es dos fluxos produtivos, sociais e ecol\u00f3gicos. O argumento central de Raworth \u00e9 que precisamos esquecer o crescimento do PIB<\/a> enquanto medidor da prosperidade humana. Afinal, n\u00e3o adianta ter uma economia global que cres\u00e7a 3% ao ano <\/a>e chegue ao triplo at\u00e9 2050, se um bilh\u00e3o de pessoas no mundo vive com no m\u00e1ximo tr\u00eas d\u00f3lares por dia<\/a>, 68 milh\u00f5es de jovens n\u00e3o conseguem emprego, a \u00e1gua acabar para dois ter\u00e7os da humanidade<\/a>, lixo pl\u00e1stico superar o n\u00famero de peixes nos oceanos<\/a> ou se a temperatura m\u00e9dia da Terra aumentar 4\u00b0C at\u00e9 o final do s\u00e9culo.<\/p>\n\n\n\n No lugar do crescimento do PIB, Raworth sugere um diagrama que, \u201cpor mais rid\u00edculo que possa parecer, ficou semelhante a um donut, daqueles com um furo no meio\u201d, escreveu ela no livro de 2017. O donut representa a faixa circular na qual as necessidades humanas e o meio ambiente podem conviver em equil\u00edbrio. Para fora dessa faixa, est\u00e3o os exageros da humanidade quanto ao uso de recursos naturais. Para dentro da faixa (o buraco), est\u00e3o as crises humanit\u00e1rias e a escassez de recursos. J\u00e1 a superf\u00edcie da rosquinha \u00e9 onde est\u00e1 o equil\u00edbrio socioambiental, e onde devemos ficar, n\u00e3o caindo para fora, nem para dentro.<\/p>\n\n\n\n Gr\u00e1fico em forma de rosquinha mostra modelo de sustentabilidade de Raworth.<\/p>\n\n\n\n Gr\u00e1fico: Kate Raworth<\/p>\n\n\n\n Assim que Raworth levou o modelo Donut a p\u00fablico, em 2011, recebeu elogios de delega\u00e7\u00f5es de diversos pa\u00edses em confer\u00eancias da ONU. \u201cSempre pensei em desenvolvimento sustent\u00e1vel dessa forma. Se ao menos voc\u00ea pudesse fazer os europeus enxergarem desse mesmo jeito\u201d, disse uma representante argentina, segundo o livro da brit\u00e2nica.<\/p>\n\n\n\n O donut de Raworth logo virou uma imagem ic\u00f4nica dentro dos c\u00edrculos ambientalistas. Em 2015, suas ideias ganharam o respaldo<\/a> dos 17 objetivos de desenvolvimento sustent\u00e1vel da ONU para 2030 \u2013 que incluem, entre outras metas, a erradica\u00e7\u00e3o da pobreza e da fome, o desenvolvimento de cidades e comunidades sustent\u00e1veis e tamb\u00e9m a\u00e7\u00f5es imediatas de mitiga\u00e7\u00e3o contra as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, como a brit\u00e2nica j\u00e1 propunha em seu modelo.<\/p>\n\n\n\n Mas foi em abril deste ano, em plena pandemia do coronav\u00edrus, que uma not\u00edcia fez as ideias de Kate Raworth sa\u00edrem de vez da bolha: Amsterd\u00e3 anunciou<\/a> publicamente que implementaria o modelo Donut, com iniciativas de alimenta\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel, pol\u00edticas de redu\u00e7\u00e3o no consumo e incentivo \u00e0 reciclagem e \u00e0 reutiliza\u00e7\u00e3o de produtos. Foi a primeira cidade do mundo a faz\u00ea-lo oficialmente. A divulga\u00e7\u00e3o da capital holandesa estimulou outros governos e organiza\u00e7\u00f5es a buscarem a mentoria da economista, que vem se reunindo com diversos integrantes do C-40<\/a>, o grupo global de cidades comprometidas a enfrentar as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n Segundo ela, j\u00e1 recebeu mais de 400 registros de cidades, estados e regi\u00f5es que querem implementar sua teoria. Copenhague aprovou<\/a> uma resolu\u00e7\u00e3o para definir, at\u00e9 o fim do ano, como vai se transformar em uma cidade Donut. O munic\u00edpio de Cali, na Col\u00f4mbia, tamb\u00e9m decidiu adotar o modelo para estabelecer novos indicadores socioecon\u00f4micos e monitorar o progresso sustent\u00e1vel a longo prazo. E, na Costa Rica, as ideias da economista tamb\u00e9m j\u00e1 servem de refer\u00eancia para o modelo de desenvolvimento econ\u00f4mico do pa\u00eds. \u201cEstou muito animada em transferir esse design inicial para cidades e pa\u00edses do chamado sul global\u201d, comentou Raworth. Pela crescente popularidade do modelo Donut, Raworth foi recentemente inclu\u00edda<\/a> em um top 5 da Forbes de mulheres que est\u00e3o revolucionando o estudo da economia a n\u00edvel mundial.<\/p>\n\n\n\n AJUDA AQUI!Nosso trabalho depende muito de voc\u00ea<\/p>\n\n\n\n Atualmente, ela \u00e9 professora e pesquisadora do Instituto de Mudan\u00e7a Ambiental da Universidade de Oxford, e tamb\u00e9m associada s\u00eanior do Instituto de Lideran\u00e7as Sustent\u00e1veis da Universidade de Cambridge. A fama mete\u00f3rica tem dado ainda mais trabalho. Para dar conta de tantas demandas, o Laborat\u00f3rio de A\u00e7\u00e3o da Economia Donut<\/a>, for\u00e7a-tarefa que Raworth montou para difundir a aplica\u00e7\u00e3o de sua teoria, vai lan\u00e7ar uma plataforma de integra\u00e7\u00e3o em setembro. O objetivo \u00e9 reunir e orientar os interessados em implementar o Donut, al\u00e9m de, a partir de outubro, promover palestras e semin\u00e1rios sobre o assunto. Segundo Raworth, o novo site vai ajudar a desenvolver \u201cideias que nenhum de n\u00f3s jamais poderia ter sozinho, mas que juntos podemos criar de forma brilhante\u201d.<\/p>\n\n\n\n Abaixo, confira a entrevista completa com Kate Raworth:<\/p>\n\n\n\n Intercept: Por que voc\u00ea pensa que \u00e9 necess\u00e1rio reformular as pol\u00edticas de desenvolvimento econ\u00f4mico para o s\u00e9culo 21?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Kate Raworth:<\/strong> A economia do s\u00e9culo 20 foi fundada na cren\u00e7a de que o sucesso econ\u00f4mico depende do crescimento sem fim. Mas h\u00e1 custos ao perseguir esse crescimento r\u00e1pido e cont\u00ednuo. \u00c9 por isso que o s\u00e9culo 21 come\u00e7ou com um colapso financeiro, o desastre clim\u00e1tico e agora o lockdown pela covid-19. Precisamos sair dessa crise com uma vis\u00e3o transformada sobre o que \u00e9 o sucesso econ\u00f4mico, e n\u00e3o se trata de um crescimento sem fim: \u00e9 prosperidade. Precisamos de economias e sociedades que sejam pr\u00f3speras e resilientes aos choques que, como sabemos, j\u00e1 s\u00e3o parte desse sistema.<\/p>\n\n\n\n Como voc\u00ea explicaria o modelo econ\u00f4mico Donut a algu\u00e9m que n\u00e3o \u00e9 familiarizado com esse conceito?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Bem, no s\u00e9culo 20, o progresso econ\u00f4mico tinha o formato de uma linha ascendente de crescimento constante. No s\u00e9culo 21, sucesso significa prosperar em equil\u00edbrio. E, por mais rid\u00edculo que possa parecer, o formato desse sucesso \u00e9 o de um donut com um buraco no meio. Ent\u00e3o, n\u00e3o deixe ningu\u00e9m ficar sem os recursos essenciais para a vida no meio do buraco do donut, mas tamb\u00e9m n\u00e3o ultrapasse a camada superior, n\u00e3o coloque tanta press\u00e3o no planeta para n\u00e3o ultrapassar os seus limites. N\u00f3s precisamos achar um equil\u00edbrio entre as necessidades de todas as pessoas e as necessidades do planeta. Precisamos viver entre os limites do donut. As pessoas entendem isso bem r\u00e1pido.<\/p>\n\n\n\n Qualquer cidade do mundo pode adotar esse modelo?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Quando estabelecemos o modelo Donut, n\u00f3s convidamos cidades e lugares a se fazer essa pergunta bem s\u00e9culo 21: \u201ccomo a sua cidade pode ser o lar de pessoas pr\u00f3speras, nesse lugar pr\u00f3spero, respeitando o bem-estar de todas as pessoas e a sa\u00fade de todo o planeta?\u201d. Isso convida todos os lugares a ter alta ambi\u00e7\u00e3o local, por seu pr\u00f3prio povo e por seu pr\u00f3prio relacionamento com a natureza.<\/p>\n\n\n\n Mas estabelece essa aspira\u00e7\u00e3o em um contexto de responsabilidade global, para garantir que o jeito de prosperar da cidade respeite as pessoas que a abastecem, por meio das cadeias de abastecimento global e todo o trabalho envolvido: a sele\u00e7\u00e3o, a limpeza, a embalagem que vai nos alimentos, nas roupas, nos aparelhos eletr\u00f4nicos, nos materiais de constru\u00e7\u00e3o que s\u00e3o importados todos os dias para todas as cidades e, posteriormente, derramados como res\u00edduos e polui\u00e7\u00e3o no outro lado da cadeia.<\/p>\n\n\n\n N\u00f3s convidamos as cidades para que cada uma se pergunte qual \u00e9 seu impacto na sa\u00fade de todo o planeta: estamos falando de emiss\u00f5es de carbono, uso da \u00e1gua, impacto no solo, uso de fertilizantes e todos esses recursos que s\u00e3o importados. E essa longa quest\u00e3o, que \u00e9 ao mesmo tempo social e ecol\u00f3gica, local e global, se aplica a qualquer cidade no mundo. \u00c9 claro que o modelo vai ser diferente quando aplicado em lugares diferentes, mas essa \u00e9 a beleza da coisa: pode ser adaptada para qualquer lugar. Estamos muito confiantes porque, embora tenhamos come\u00e7ado em cidades e pa\u00edses de alta renda, estamos recebendo muito interesse de outros lugares que j\u00e1 vislumbram exatamente como querem adaptar o modelo a seus pr\u00f3prios conceitos e realidades.<\/p>\n\n\n\n Raworth faz palestra em confer\u00eancia sobre o clima sediada em Londres.<\/p>\n\n\n\n Foto: NurPhoto via Getty Images<\/p>\n\n\n\n Como voc\u00ea avalia a possibilidade de pa\u00edses tentarem compensar suas atividades de produ\u00e7\u00e3o ap\u00f3s esse per\u00edodo de suspens\u00e3o total ou parcial por causa da pandemia com pr\u00e1ticas ainda mais predat\u00f3rias ao meio ambiente?<\/strong><\/p>\n\n\n\n A pandemia do coronav\u00edrus nos ensinou que somos todos vulner\u00e1veis. Mas tamb\u00e9m nos mostrou que mudan\u00e7as profundas s\u00e3o poss\u00edveis: no jeito que vivemos, no que pensamos que \u00e9 normal e nas pol\u00edticas p\u00fablicas que os governos podem colocar em pr\u00e1tica. Como agora tentamos emergir dessa crise, toda na\u00e7\u00e3o precisa decidir qual caminho seguir. Alguns pa\u00edses, sem d\u00favida, ir\u00e3o redobrar as atividades econ\u00f4micas extrativistas que j\u00e1 praticavam antes, tentando principalmente recuperar o crescimento que perderam nesse per\u00edodo. Mas esses pagar\u00e3o um alto pre\u00e7o, por meio de danos ecol\u00f3gicos e sociais.<\/p>\n\n\n\n Por outro lado, muitos outros pa\u00edses est\u00e3o come\u00e7ando a buscar uma economia regenerativa, como a Nova Zel\u00e2ndia ou a Costa Rica, por exemplo. Esses pa\u00edses compreenderam que h\u00e1 um caminho diferente a ser seguido, e que esse \u00e9 exatamente o momento para se dedicar a essa transforma\u00e7\u00e3o, investindo em energias renov\u00e1veis, em empregos e empresas locais de cada comunidade. Investir em cidades e neg\u00f3cios que produzam bem-estar \u00e0s fam\u00edlias, bairros e \u00e0 sociedade. Em vez de aparecer como \u00edndices de crescimento do PIB, esses benef\u00edcios econ\u00f4micos significar\u00e3o maior bem-estar para as pessoas e para o ecossistema, e v\u00e3o aparecer em outras estat\u00edsticas que refletem esses benef\u00edcios \u00e0 humanidade e ao planeta.<\/p>\n\n\n\n Seu livro Economia Donut<\/em> foi publicado em 2017, mas suas ideias est\u00e3o ganhando ainda mais visibilidade agora. Voc\u00ea acha que a pandemia do coronav\u00edrus impulsionou a busca pelo seu modelo econ\u00f4mico?<\/strong>Queremos viver em sociedades que nos coloquem sob intenso estresse e que coloquem nosso ecossistema tamb\u00e9m sob forte estresse?<\/p>\n\n\n\n Sim, com certeza estamos percebendo mais interesse na Economia Donut e na \u2018cidade Donut<\/a>\u2019 do que haveria sem a pandemia do coronav\u00edrus. Essa pandemia tem sido devastadora para o estilo de vida de muitas pessoas, e claro, levado a vida de muitos tamb\u00e9m, como no meu pa\u00eds e no seu. Isso tamb\u00e9m deu uma raz\u00e3o para as pessoas pararem e refletirem sobre o estilo de vida que havia virado normal, e tamb\u00e9m para perguntarmos a n\u00f3s mesmos se queremos viver em sociedades que nos coloquem sob intenso estresse e que coloquem nosso ecossistema tamb\u00e9m sob forte estresse. Mas h\u00e1 novas alternativas.<\/p>\n\n\n\n Fiquei muito impressionada com o fato de que Amsterd\u00e3 lan\u00e7ou seu retrato de cidade Donut em 8 de abril. E houve um real e imediato interesse internacional, j\u00e1 que outros pa\u00edses come\u00e7aram a pensar em como queriam emergir da pandemia, qual dire\u00e7\u00e3o queriam seguir. Acredito que a mudan\u00e7a acontece quando as pessoas s\u00e3o inspiradas por outras pessoas que fazem o que se julgava imposs\u00edvel. Assim, um prefeito se inspira em outro prefeito que j\u00e1 est\u00e1 colocando em pr\u00e1tica a Economia Donut.<\/p>\n\n\n\n Convidamos as pessoas a se cadastrarem em nossa iniciativa, se estivessem interessadas em adaptar o modelo Donut ao seu bairro, ou na\u00e7\u00e3o, ou cidade, ou povoado, ou vila, e tivemos mais de 400 manifesta\u00e7\u00f5es de interesse, de todo o mundo. Portanto, agora queremos disponibilizar esta metodologia gratuitamente, para que outros possam adapt\u00e1-la e implement\u00e1-la em seus contextos e assim torn\u00e1-la o mais \u00fatil poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n Esse modelo pode ser igualmente aplic\u00e1vel \u00e0s capitais do \u201cprimeiro mundo\u201d e \u00e0s cidades do \u201cterceiro mundo\u201d, mesmo considerando diferen\u00e7as estruturais e desigualdades sociais?<\/strong><\/p>\n\n\n\n N\u00f3s desenvolvemos essa estrutura em conjunto com o C-40, a ambiciosa rede global de cidades de lideran\u00e7a clim\u00e1tica, e intencionalmente buscamos a aplica\u00e7\u00e3o pr\u00e1tica de suas primeiras vers\u00f5es em cidades de alta renda e alto consumo do norte global, pois acreditamos que \u00e9 l\u00e1 onde essa transforma\u00e7\u00e3o tem a obriga\u00e7\u00e3o de come\u00e7ar. Entretanto, a estrutura do Donut \u00e9 absolutamente adapt\u00e1vel a cidades e pa\u00edses com todos os n\u00edveis de renda. Ap\u00f3s a aplica\u00e7\u00e3o inicial em cidades de alta renda do norte global, nossa ideia \u00e9 mostrar que a estrutura do modelo tamb\u00e9m \u00e9 aplic\u00e1vel a cidades de m\u00e9dia e baixa renda de qualquer pa\u00eds do mundo, desenvolvendo maneiras de implementa\u00e7\u00e3o que realmente captem a ess\u00eancia dos problemas mais relevantes desses lugares. Pela perspectiva do modelo Donut, todos os pa\u00edses \u2013 sejam ricos ou pobres \u2013 s\u00e3o \u201cpa\u00edses em desenvolvimento\u201d.<\/p>\n\n\n\n O que \u00e9 o C-40 e qual a sua conex\u00e3o com o grupo?<\/strong><\/p>\n\n\n\n O C-40 \u00e9 uma organiza\u00e7\u00e3o internacional com mais de 96 cidades-membro, e todas tiveram que se comprometer a se transformar para manter o aquecimento global abaixo de 1,5\u00b0C. Ent\u00e3o, pode-se dizer que s\u00e3o as cidades do mundo mais ambiciosas em rela\u00e7\u00e3o ao clima. S\u00e3o cidades de pa\u00edses ricos e pobres, do norte e do sul global.<\/p>\n\n\n\n N\u00f3s, do Laborat\u00f3rio de A\u00e7\u00e3o da Economia Donut, estamos trabalhando em conjunto com eles, e em companhia tamb\u00e9m da Circle Economy<\/a> e da Biomimicry 3.8<\/a>, para criar um escalonamento da cidade Donut e encontrar uma metodologia de aplica\u00e7\u00e3o padr\u00e3o para todas as cidades. Assim, come\u00e7amos com Amsterd\u00e3, e ent\u00e3o passaremos \u00e0s cidades de Portland e Filad\u00e9lfia, nos Estados Unidos. Amsterd\u00e3 foi a cidade que j\u00e1 publicou o seu retrato, j\u00e1 acess\u00edvel ao p\u00fablico<\/a>.<\/p>\n\n\n\n S\u00e3o Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Curitiba tamb\u00e9m fazem parte do C-40. Que tipo de desafios especiais lugares com maior desigualdade social e problemas estruturais enfrentam para alcan\u00e7ar esses objetivos? Qual \u00e9 o contexto especial para pa\u00edses economicamente desfavorecidos?<\/strong><\/p>\n\n\n\n Bem, o Brasil \u00e9 um pa\u00eds que est\u00e1 atualmente muito aqu\u00e9m do que deveria no \u2018Donut global\u2019: milh\u00f5es de pessoas no Brasil n\u00e3o desfrutam dos recursos essenciais \u00e0 vida, e, ainda assim, o pa\u00eds est\u00e1 ultrapassando seu limite de impacto ecol\u00f3gico, deixando uma marca na Terra muito maior do que deveria. Ent\u00e3o, o Brasil \u00e9 um pa\u00eds que precisa se ajustar, ao mesmo tempo, nos dois lados do donut. Nesse contexto, \u00e9 similar ao que precisam fazer tamb\u00e9m \u00c1frica do Sul, Egito, R\u00fassia e Indon\u00e9sia, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n Leia Nossa Cobertura CompletaSa\u00eddas \u00e0 esquerda<\/p>\n\n\n\n O jeito que os pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina far\u00e3o isso exatamente vir\u00e1 do seu pr\u00f3prio continente, pois as solu\u00e7\u00f5es precisam ser locais. Mas as din\u00e2micas que usamos s\u00e3o comuns: primeiro, a transforma\u00e7\u00e3o de din\u00e2micas de design degenerativo, ind\u00fastrias que esgotam o planeta e degeneram seu sistema de vida para din\u00e2micas que sejam de design regenerativo. Isso significa se tornar circular, trabalhar com e nos limites dos ciclos de vida do planeta. Ainda, a segunda din\u00e2mica \u00e9 abandonar estruturas econ\u00f4micas que t\u00eam design divisivo, deixando valores e oportunidades nas m\u00e3os de poucos, e transformar essas din\u00e2micas em distributivas, fazendo as oportunidades e valores bem mais acess\u00edveis a toda sociedade. Isso acontece com a propriedade de terras, propriedade de casas, propriedade de empresas, propriedade de ideias, do modelo monet\u00e1rio e dos servi\u00e7os p\u00fablicos. Assim, h\u00e1 muitas maneiras diferentes de criar economias e sociedades distributivas.<\/p>\n\n\n\n Alguns especialistas afirmam que a atual pandemia \u00e9 um problema global em uma escala de tempo menor e mais espec\u00edfica, enquanto as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas s\u00e3o uma era inteira. Como voc\u00ea enxerga os dois eventos e que li\u00e7\u00f5es podemos aprender com um para enfrentar o outro?<\/strong><\/p>\n\n\n\n \u00c9 absolutamente verdade que a crise do coronav\u00edrus acontece em uma escala muito mais r\u00e1pida do que a crise das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. O que eu acho especialmente interessante sobre essa diferen\u00e7a \u00e9 que, no caso da pandemia atual, h\u00e1 um per\u00edodo muito mais curto entre as decis\u00f5es que os pol\u00edticos tomam e o impacto dessas decis\u00f5es.A pandemia tem nos mostrado at\u00e9 agora \u00e9 que discursos pol\u00edticos vazios n\u00e3o diminuem as taxas de infec\u00e7\u00e3o, pol\u00edticas competentes sim.<\/p>\n\n\n\n Normalmente, a maioria das pol\u00edticas p\u00fablicas, sejam econ\u00f4micas, educacionais, ou mesmo ambientais, demoram muito para ter resultados pr\u00e1ticos observ\u00e1veis, porque se passa um longo per\u00edodo desde a aplica\u00e7\u00e3o dessa pol\u00edtica at\u00e9 o seu impacto real. E, na maioria das vezes, os pol\u00edticos que criaram essa pol\u00edtica j\u00e1 sa\u00edram do poder quando os resultados aparecem. Entretanto, com o coronav\u00edrus, as decis\u00f5es tomadas em dezembro, janeiro, fevereiro e mar\u00e7o pelos governantes ao redor do mundo todo j\u00e1 est\u00e3o dando resultados, sejam eles bons ou ruins. Ent\u00e3o isso cria uma grande capacidade de responsabiliza\u00e7\u00e3o quase imediata dos pol\u00edticos que est\u00e3o tomando as decis\u00f5es no presente, e o que a pandemia tem nos mostrado at\u00e9 agora \u00e9 que discursos pol\u00edticos vazios n\u00e3o diminuem as taxas de infec\u00e7\u00e3o, pol\u00edticas competentes sim. E podemos observar uma grande diferen\u00e7a entre a crise em pa\u00edses onde os pol\u00edticos menosprezaram a pandemia do coronav\u00edrus, dizendo que era uma fantasia e um exagero da m\u00eddia, como no meu pa\u00eds e no seu, e a crise em pa\u00edses como a Coreia do Sul, a Nova Zel\u00e2ndia e a Alemanha, onde levaram a pandemia a s\u00e9rio desde o in\u00edcio e conseguiram minimizar seus efeitos. Portanto, essa pandemia \u00e9 uma grande e poderosa demonstra\u00e7\u00e3o da compet\u00eancia, ou incompet\u00eancia, dos governos em lidar com crises graves.<\/p>\n\n\n\n Agora, a crise da mudan\u00e7a clim\u00e1tica \u00e9 muito mais dura e dif\u00edcil, pois acontece em uma escala de tempo muito mais longa, o que significa que os pol\u00edticos n\u00e3o podem ser t\u00e3o facilmente responsabilizados em curto prazo. Mas o que a atual pandemia nos mostrou \u00e9 que grandes mudan\u00e7as s\u00e3o poss\u00edveis, mesmo da noite para o dia. Cidades que possu\u00edam um problema end\u00eamico de moradores de rua, por exemplo, conseguiram resolver a situa\u00e7\u00e3o em poucos dias, colocando-os em hot\u00e9is e outras acomoda\u00e7\u00f5es. Pa\u00edses que jamais considerariam instituir uma renda b\u00e1sica universal, ou semanas de trabalho de apenas quatro dias, por exemplo, e diziam que essas pol\u00edticas eram impratic\u00e1veis, de repente est\u00e3o apresentando pacotes de ajuda financeira nesses moldes. Ent\u00e3o, nesse sentido, acredito que a presente crise serviu tamb\u00e9m para abrir os olhos das pessoas para o entendimento de que pol\u00edticas transformativas alternativas s\u00e3o poss\u00edveis, mas que n\u00f3s n\u00e3o precisamos apenas persegui-las em tempos de crise. N\u00f3s podemos escolher usufruir dessas pol\u00edticas de forma permanente, para criarmos o futuro que j\u00e1 sabemos que queremos.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" COMO QUALQUER ADOLESCENTE brit\u00e2nica nos anos 1980, Kate Raworth compreendia o mundo principalmente pelas imagens do notici\u00e1rio televisivo. Sua mem\u00f3ria guardou cenas como as das crian\u00e7as et\u00edopes raqu\u00edticas por causa da fome, das fileiras intermin\u00e1veis de mortos ap\u00f3s o vazamento de um g\u00e1s t\u00f3xico na \u00cdndia, em 1984, e do derramamento de petr\u00f3leo da Exxon nas […]<\/p>\n","protected":false},"author":11,"featured_media":692,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[8],"tags":[],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/712"}],"collection":[{"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/11"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=712"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/712\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":713,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/712\/revisions\/713"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/692"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=712"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=712"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/sociologiadigital.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=712"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}![\"\"](\"https:\/\/theintercept.imgix.net\/wp-uploads\/sites\/1\/2020\/09\/grafico_doughnutv1.jpg?auto=compress%2Cformat&q=90\")
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